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Mais Informações Sobre os Manuscritos Semitas do Novo Testamento

 

Introdução

O objetivo deste artigo é familiarizar o leitor com os diversos manuscritos semitas dos Ketuvim Netsarim (Novo Testamento) que existem na atualidade. Como boa parte do Cristianismo crê na errônea tradição romana de que tais textos teriam sido escritos em grego (vide nossos artigos acerca da primazia semita), pouco se conhece acerca dos manuscritos semitas.

O conhecimento dos manuscritos semitas, e de sua origem, é de grande importância para que possamos evitar os erros de tradução que deram origem a tantos desvios teológicos da atualidade. Aqui exporemos um breve histórico dos manuscritos semitas mais importantes, os quais são base da tradução dos Ketuvim Netsarim.

Os principais descendentes dos textos originais semitas que sobrevivem hoje são:

- As versões hebraicas Shem Tob, DuTillet, e Munster do Sefer Matitiyahu (Livro de Mateus)

- A família de textos aramaicos chamada de "Siríaco Antigo" dos 4 livros das Boas Novas

- A Peshitta aramaica, que contém fundamentalmente o texto quase completo dos Ketuvim Netsarim (Novo Testamento), a exceção de Kefa Beit (Segunda Pedro), Yochanan Beit eYochanan Guimel (Segunda e Terceira João), Yehudá (Judas) e Apocalipse

- O manuscrito Crawford de Apocalipse

O Manuscrito Shem Tob

A versão hebraica de Matitiyahu foi transcrita por Shem Tob Ben Yitschak Ben Shaprut em sua obra apologétic Even Bohan, cerca de 1380 DC. Shem Tob teria usado um manuscrito antigo de Matitiyahu que descenderia do original. A obra de Shem Tob sobrevive através de manuscritos que datam de cerca dos séculos 15 e 16, Acerca do manuscrito Shem Tob, George Howard escreve:

"...um substrato antigo do hebraico em Shem Tob é uma composição anterior, e não uma tradução. O substrato antigo, contudo, foi exposto a uma série de revisões de modo que o presente texto de Shem Tob representa o original apenas em forma impura." (The Gospel of Matthew according to a Primitive Hebrew Text; 1987; p.223)

"Pode parecer pelo pano-de-fundo lingüístico e sociológico do Cristianismo primitivo e pela natureza de algumas tendências teológicas no Mateus de Shem Tob que o texto hebraico serviu de modelo para o grego. O presente autor está, de fato, inclinado a esta posição." (ibid p.225)

"O Mateus de Shem Tob... não preserva o original em forma pura. Ele reflete a contaminação de escribas judeus durante a idade média. Contudo, partes consideráveis do original parecem ter permanecido..." (Hebrew Gospel of Matthew; 1995; p.178)

A versão Shem Tob de Matitiyahu difere daquelas de Munster e DuTillet, as quais na maioria das vezes concordam entre elas. Qual seria então a utilidade de um texto como Shem Tob para o nosso projeto? Por conter parte da essência original, Shem Tob é utilizado não como texto primário para a tradução, porém como um testemunho adicional e critério de desempate em caso de discordância entre as demais fontes. Além disso, há um fator cultural importante em Shem Tob: por ser interpretativo em certas passagens, pode nos fornecer dados valiosos acerca de como uma passagem ou expressão era compreendida dentro da mentalidade judaica.

O Manuscrito DuTillet

A versão hebraica DuTillet de Matitiyahu vem do manuscrito que foi confiscado dos judeus por parte da Igreja Católica, em Roma, no ano de 1553. Em 12 de Agosto de 1553, o papa Julius III assinou um decreto banindo o Talmud de Roma. Tal decreto foi executado justamente num Rosh HaShaná, em 9 de Setembro, e qualquer coisa que se parecesse com o Talmud ou fosse escrita em caracteres hebraicos  foi confiscada dos lares e sinagogas judaicas. Na ocasião, o bispo francês Jean DuTillet estava visitando Roma. Ele ficou espantado ao ver um manuscrtio de Matitiyahu em meio aos demais manuscritos hebraicos. Possivelmente, tal manuscrito pertencera a uma família de judeus nazarenos que haviam ainda permanecido apesar das perseguições. DuTillet obteve o manuscrito e retornou à França, doando-o para a Bibliotheque Nationale de Paris, onde permanece até hoje como ms. hebraico 132.

Apesar de ignorado pela grande maioria da cristandade, muitos teólogos que avaliaram o manuscrito chegaram à conclusão de que o texto é anterior ao grego. Schonlfield, por exemplo, escreve:

"... certas provas lingüísticas... parecem apontar que o texto hebraico [DuTillet] é anterior ao grego, e que certas renderizações do grego podem ser devido a leituras equivocadas do original hebraico." (An Old Hebrew Text of St. Matthew's Gospel; 1927, p.17)

Os Manuscritos Munster

O manuscrito Munster foi publicado por Sebastian Munster, um professor suíço de hebraico e aramaico, em 1537 (e republicado em 1557). A história de sua publicação é curiosa. Em seus livros acerca do hebraico, Munster freqüentemente dava exemplos vindos de um manuscrito hebraico de Matitiyahu que ele havia recebido de judeus nazarenos. Após diversas solicitações de seus alunos, Sebastian Munster então publicou o seu manuscrito.

Em sua carta ao rei Henrique VIII, Munster afirma que o manuscrito que havia recebido não estava em estado perfeito de conservação, e  possuía  diversas lacunas no texto. Tais lacunas foram preenchidas pelo próprio Munster.

Contudo, em 1551, Johannes Quin-Quarboreus de Aurila, professor de hebraico e aramaico na College de France, e colega de Sebastian Munster, publicou uma versão do manuscrito Munster na qual indicava e comentava o preenchimento das lacunas feito por Munster. De posse das anotações de Munster, e também tendo como fonte outros manuscritos hebraicos ao qual teve acesso, Quin-Quarboreus fez revisões ao manuscrito, corrigindo alguns dos preenchimentos feitos por Munster. Quin-Quarboreus afirma, no prefácio de sua edição do manuscrito, que o manuscrito de Munster e os demais manuscritos ao qual ele próprio teve acesso estavam em concordância com o manuscrito original em hebraico de Matitiyahu.

O Manuscrito de Hebreus

Na edição de 1557 do manuscrito Munster, também foi incluída uma versão hebraica do Sefer Ivrim (livro de Hebreus) que Sebastian Munster também obtera de judeus nazarenos. Ao contrário do manuscrito de Matitiyahu, o Sefer Ivrim obtido por Munster não possuía lacunas, e também apontava para um texto anterior ao grego.

O Siríaco Antigo

Um fato relativamente desconhecido para o Cristianismo é a existência de dois manuscritos antigos em aramaico dos 4 livros das Boas Novas, datando do século 4. O primeiro foi descoberto pelo Dr. William Cureton em 1842, num monastério no Vale dos Lagos de Naton, no Egito. Este manuscrito é conhecido como Codex Syrus Curetonianus, ou o Cureton, e se encontra no British Museum sob o número de 14451. O segundo foi descoberto pela Sra. Agnes Smith Lewis, em 1892, no monastério de Santa Catarina, próximo ao monte Sinai, no Egito. O manuscrito é conhecido como Codex Syrus Sinaiticus, ou Siríaco Sinaitico, catalogado como Ms. Siríaco Sinaitico No. 30. Segundo Cureton, tais manuscritos seriam baseados no texto original dos apóstolos.

O Siríaco Antigo assemelha-se muito à Peshitta, contudo, a idade dos manuscritos e alguns fatores lingüísticos levam a crer que a Peshitta tenha sido uma revisão do Siríaco Antigo. O principal indício é o de que ambas as famílias de manuscritos possuem um aramaico bem próximo do dialeto galileu do primeiro século, e com forte influência do hebraico. Contudo, em alguns trechos, a Peshitta traz palavras que se aproximam mais do aramaico siríaco. Em tais trechos, o Siríaco Antigo preserva o dialeto galileu, dando fortes indícios de que a Peshitta deriva-se do Siríaco Antigo.

A Peshitta

O manuscrito dos Ketuvim Netsarim (Novo Testamento) da Peshitta é usado amplamente nas comunidades nestoriana e jacobita do Oriente. Apesar de seus manuscritos datarem dos séculos 4 e 5, é possível comprovar que a Peshitta é anterior a tais datas. Uma das maiores evidências é o fato da Peshitta ser texto adotado por comunidades que foram rivais após o Concílio de Nicéia. Nenhuma das duas facções teria aceitado o manuscrito da outra. Portanto, é facilmente demonstrável que a Peshitta é anterior ao Concílio de Nicéia.

Ao contrário do que alegam os que desconhecem a Peshitta, a mesma não se trata de uma tradução dos manuscritos gregos. Seus textos são por diversas vezes deveras diferentes das conhecidas famílias do grego, e em inúmeras passagens apontam para um texto sublinear ao grego - especialmente ao Texto Recebido, o qual deriva-se diretamente da Peshitta.

Nas palavras do patriarca da Igreja do Oriente, Mar Eshai Shimun: "com referência à... originalidade do texto da Peshitta... desejamos declarar que a Igreja do Oriente recebeu as Escrituras das mãos dos próprios Apóstolos benditos no aramaico original, a língua falada pelo próprio nosso Senhor Yeshua o Messias..."

O termo "Peshitta" significa "simples", e foi dado porque a Peshitta é uma compilação simples das Escrituras nas línguas semitas. Infelizmente, como a Igreja do Oriente não considera canônicos os livros de Kefa Beit (Segunda Pedro), Yochanan Beit e Yochanan Guimel (Segunda e Terceira João), Yehudá (Judas) e Apocalipse, os mesmos, à exceção do livro de Apocalipse, não foram preservados no aramaico original.

O Manuscrito Crawford

O manuscrito Crawford é bastante raro, e pouco conhecido. A forma como tal manuscrito chegou à Europa é desconhecida. O que sabe-se é que foi comprado pelo Conde de Crawford por volta de 1860. Desde então, tornou-se posse da conhecida John Rylands Library of Manchester, na Inglaterra. O manuscrito contém um texto completo da Peshitta, bem como as epístolas extra-Peshitta vindas do Peshitto (tradução ocidental do grego para o aramaico, feita para concorrer com a Peshitta), e uma versão exclusiva de Apocalipse, que não deriva do grego. Confirmado que essa versão de Apocalipse derivava-se da família dos manuscritos semitas, foi publicada em 1897 por John Gwynn.

Por Sha'ul Bentsion
Baseado em pesquisa do Dr. James S. Trimm

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